Da janela estreita do meu antigo quarto, no momento em que acordo, consigo ver o sol se pôr no horizonte e cores lindas e vibrantes começarem a pintar o céu em um degradê perfeitamente esfumado do roxo ao laranja. A vista linda me tira longos suspiros e eu queria poder desfrutar mais vezes. São coisas pequenas que tornam nosso dia ainda melhor.
A vista bonita não é a única coisa que me chama a atenção, no entanto. Parece haver uma orquestra completamente desafinada na cozinha da minha casa. Algo como talheres e panelas batendo, passos correndo e uma conversa altamente animada e sem fim.
Quando entro na cozinha, ainda sonolenta de uma longa tarde sono, Clarisse, minha mãe e minha tia estão correndo contra o tempo para o jantar dessa noite. O aroma que está impregnado em toda a cozinha é maravilhoso. Algo me diz que Clarisse preparou um frango assado de lamber os dedos.
“Cecília!” minha mãe exclama de forma impetuosa “Posso saber porque você ainda não está pronta?” questiona com as sobrancelhas franzidas e coloca a mão na cintura, como se não estivesse acreditando que eu ainda estou de pijama e cabelos bagunçados quase na hora do jantar.
O relógio à minha frente me diz que eu estou levemente atrasada, mas conhecendo Harry e a má fama de astros do pop, eu sei que ele não chegará no horário marcado. No entanto, mamãe ama manter as boas maneiras e ela preza muito chegar no horário marcado. Ou seja, ela sempre nos obriga a chegar no horário marcado e faz um longo sermão quando isso não acontece.
Clara está organizando a mesa e meu pai está abrindo o vinho com um enorme sorriso nos lábios, como se estivesse com muita sede. Mamãe puxa a garrafa para si, ainda me encarando e a guarda na geladeira. Ela odeia que comecemos a comer ou beber antes das visitas. Um hábito que vovó passou para ela e suas irmãs.
“Eu não sei se vocês ainda não perceberam, mas essa ideia de convidar o Harry para jantar é completamente absurda!” exclamo “Mamãe” olho diretamente para ela “Ele é um cara muito ocupado, não pode vir toda vez que você o convidar.”
“Não seja tão ranzinza, Cecília! Nós o convidamos para um jantar de agradecimento. Além do mais, ele não negou o convite” cruza os braços abaixo do peito autoritamente.
Suspiro profunda e dramaticamente, antes de me virar para voltar para o meu quarto, mas ao dar meia volta, encontro Harry parado ao lado da bancada com um sorriso enorme e travesso nos lábios, entregando que escutou toda a nossa conversa na cozinha.
“Você está sensacional de pijamas, Ceci!” exclama ironicamente e coloca o vinho que trouxe consigo no balcão de mármore “Eu adoro o fato de você me receber calorosamente. Os pijamas me fazem sentir em casa.”
“Harry!” Mamãe exclama assustada e surpresa, caminhando em nossa direção de braços abertos.
Seus braços o envolvem demoradamente e eu aproveito a distração para sair silenciosamente da sala. O alívio invade todo o meu corpo quando fecho a porta do meu quarto e escoro meu corpo nela.
Tento ser rápida ao vestir minhas roupas, porque não tenho dúvidas de que minha família está enlouquecendo Harry nesse exato momento. Sei que ele já veio antes, mas eu conheço minha família suficientemente para saber que eu não deveria deixá-lo sozinho. Seria como se eu estivesse o jogando aos lobos ferozes e famintos.
Em poucos minutos, estou descendo as escadas tão rapidamente que quase tropeço nos meus próprios pés.
“Cecília é uma menina de ouro!” exclama minha mãe, sentada ao lado de Harry na mesa de jantar.
“Quais são suas intenções com a minha filha, Harry?” meu pai pergunta seriamente, colocando a taça de vinho sobre a mesa.
Harry se engasga com o último gole de vinho que deu e eu aproveito para tornar minha presença notável para todos da cozinha.
“Harry, você deveria conhecer a casa” afirmo, interrompendo a conversa, enquanto Harry ainda está tossindo.
Harry parece suspirar em alívio e se levanta rapidamente, tentando fugir da conversa sobre compromisso.
“Eu acho uma ótima ideia” afirma e caminha atrás de mim.
“Minha família às vezes desconhece o que é limites” afirmo, fazendo um leve careta ao relembrar a cena.
Harry abre um sorriso, exibindo as covinhas lindas em suas bochechas, achando a situação um pouco engraçada e assustadora.
Começo a subir as escadas e Harry me acompanha, apoiando a mão no corrimão de ferro à direita.
“Seu pai me deu um pouco de medo” afirma, colocando a mão no peito “Ele é sempre assim ou só quer me intimidar?”
“Posso te garantir que não é assim o tempo todo” afirmo rindo “Geralmente ele é um doce de pessoa.”
“Obrigado. Isso me deixa um pouco mais aliviado” arruma seus cabelos revoltosos.
“Por quê? Se arrependeu de aceitar o convite?" pergunto sugestivamente em tom zombeteiro, fazendo-o rir.
“Com certeza não” afirma, com olhos brilhando em malícia “Agora eu sei que você gostava de dançar Elvis na chuva.”
“Ela te contou isso também?” pergunto e ele balança a cabeça em afirmação.
“Sim. E como você se recusava ir à escola para cuidar do seu cachorrinho novo. Inventava milhares de desculpas e fazia um teatro.”
“Todo mundo já fez isso” afirmo incerta e ele sorri, balançando a cabeça.
“Sim, mas a forma como sua mãe conta, é realmente hilária."
Abro a porta do meu quarto e convido Harry para entrar. Algumas coisas estão bagunçadas como a minha cama e a escrivaninha. No entanto, melhor trazê-lo para cá que deixá-lo com minha família por muito tempo.
“Então é aqui onde você passou toda a sua adolescência?"
Afirmo com a cabeça e ele fecha a porta atrás de si, ainda observando admirado meu antigo quarto.
“Então você gostava realmente de McFly?” pergunta, observando os posters colados nas paredes.
“Danny sempre terá um lugar reservado no meu coração” pisco para ele e ele sorri.
“Você quer ingressos para o show?” pergunta e eu abro a boca surpresa. Harry limpa a garganta, antes de continuar “Tom é um velho amigo meu", afirma.
“Eu pensei que eles tinham separado por um tempo” afirmo “Eu realmente não acompanho mais a banda desde que entrei na faculdade.”
“Então você perdeu muita coisa desde que se formou no ensino médio” garante.
Harry encosta mais perto de onde estou, ainda observando meu quarto, e para ao meu lado.
“Uau, Cecília!” exclama surpreso “Uma coleção inteira de cds do McFly!”
“E qual a sua coleção de cds?” questiono curiosamente.
“Nirvana” afirma sem hesitar “Mas acho que minha mãe os jogou fora desde que me mudei para cá. Não tenho muita convicção.”
Só quando eu sinto seu braço tocar no meu, eu percebo que estamos mais próximos do que eu imaginava. O local parece pegar fogo e eu sinto minhas bochechas queimarem. Estou sentindo que ele está me encarando profundamente e eu levanto meu olhar para poder sanar a dúvida crescente no meu peito.
Quando meus olhos encontram com os seus, eu não consigo desviá-los. Há uma intensidade surreal no verde dos seus olhos, enquanto ele me encara, que me mantém parada no mesmo lugar.
Seus cabelos caem levemente em seu rosto, mas ele não parece preocupado ou incomodado com isso agora, porque sua mão não se move do lugar. Qualquer movimento afastará nosso toque. Parece tão íntimo, mesmo que mínimo.
Seu rosto está cada vez mais perto e eu sinto seu hálito chocar contra meu rosto com cheiro de vinho tinto.
“Você está tão linda!” exclama, cada segundo mais perto.
Em poucos segundos, nossos lábios se tangenciam como se estivessem acabando de se conhecer. No mesmo instante, acontece uma festa dentro de mim; milhares de fogos de artifício estão explodindo em meu estômago como se fosse a primeira vez ou como se estivesse ansiando esse momento por muito tempo.
Sua língua úmida passeia pela fenda dos meus lábios e eu dou espaço para algo maior. O gosto de vinho me invade veemente e eu só quero ir mais fundo. Nossas línguas se encontram e um arrepio percorre todo o meu corpo.
Harry empurra alguns papéis em cima da escrivaninha branca e me coloca sentada em cima dela. Envolvo minhas pernas ao redor da sua cintura e suas mãos passeiam por minhas costas e sobem lentamente até o meu pescoço, levando eletricidade por todo o meu corpo.
Não consigo negar que nossas bocas formam um encaixe perfeito, como se fossem feitas somente para isso. Como um quebra cabeça.
Harry puxa meu quadril para mais perto de si e... Oh meu Deus! Não acredito que estamos fazendo isso!
Sua boca se move lenta e deliciosamente contra a minha e eu não consigo e nem quero parar. Há uma força vigora me puxando cada vez mais perto, me deixando cada vez mais colada.
“Cecília” Clara bate à porta e eu dou um sobressalto, empurrando-o para trás e me levantando da escrivaninha.
Clara abre a porta e a cena que segue entrega descaradamente que estávamos nos beijando há dois segundos atrás.
“Eu…” Clara abre um sorriso malicioso quando nos observa atentamente “O jantar está pronto.”